domingo, 30 de janeiro de 2011

Ele, da sacada, dizia que tinha um gato bebendo agua da piscina.

Ela, atrás do computador, escondia um soluço. Soluço provocado pela falta de indulgência aos atos outrora abortados. Condescendência zero ao não feito. O nada em julgamento.

Ele, instava na sede do gato, batia o pé, assobiava, como que pra chamar a atenção do mesmo, assassinando o silêncio.

Ela, já não escrevia nem escutava, só entendia o gato. Se ele queria aumentar o absurdo, ela também já tinha ensaiado.

Ela desliga o computador mas a moça do outro lado, quase que materializada a acompanha.

Ela, vai direto pra cama lembrar.

Estava quase conseguindo experimentar outra vez o odor longíguo daqueles cabelos, outrora longos, encaracolados, que havia impregnado delicadamente em seu antigo travesseiro. Ele, com sua habitual ausência de destreza, vê na porta um rochedo e a escancara. Entra no quarto já sonolento mas querendo um resto de conversa, invade o abstrato e o soterra. Roubo.

Naquela noite, como n’outras tantas, ficaram os três na cama, ele, ela e a menina que tem vontade de morrer um pouco, esperando o sono instalar-se deveras.

Luana Azzolin