terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Étienne

Impressão de ter existido demais por hoje. Vontade de desligar o botão, dar pause. Semana passada uma pessoa querida suicidou, e eu me arrependi de quando ela me procurava, nunca ter tempo. Tempo que não dá pra voltar. De pensar que estaria sempre alí, fui adiando. Escrever, ligar, sempre pro outro dia. Não pedi as poesias que planejava publicar, traduzir para minha língua. Agora já era. Já era ele, já era publicar suas poesias. Nunca vou esquecer do verso que continha nos langues râpeuses, que um dia ele me mostrou em sua casa, no meio de tanta bagunça, fumaça, álcool. Da mesma ocasião em que critiquei o papel de parede de seu apartamento e ele me disse que não se incomodava, o contrário de mim que considerava aquelas florzinhas tellement fatigantes. Talvez quisesse ajuda; queria amigos, queria ser lido e que vissem suas gravuras. Eu não dei nada disso. Concentrei-me apenas em meu mundinho umbigo-de-merda. Foste parar no hospital e eu nem soube. Não te liguei nem te escrevi. Confesso que algumas vezes por semana desejava uma faca na minha barriga, talvez por isso considerava-me companhia imprópria. Eu errei Etienne. Agora me sinto um monstro de desatenção. Nem fui saber como correu teu estágio, nem te contei do meu. Nós que éramos os únicos a levar térmica com chá para a aula. Tú que me davas do teu pois a tua era bem maior. Tú que utilizavas alfabeto fonético para anotar tudo. Tú que me fazias pensar na dor que tenho em meus joelhos. Meus joelhos que me faziam pensar em tí cada vez que doíam, como aconteceu na quinta, quando já estavas morto e eu nem sabia. Tú que não tinhas namorada e tão poucos amigos em Toulouse, que moravas sozinho. Rien de nouveau au pays des abeilles. Achei que não fosse mais capaz de chorar. Nada. Nem lembro se cheguei a te falar do poema do brasileiro Leminski sobre o homem com uma dor, acho que sim. Tú e tuas pernas que doíam tanto. Tú que tomavas tantos medicamentos. Eu ía em breve te pedir teus poemas. Eu também acho difícil ir vivendo. Por isso me escondo, por isso renovo, por isso conquisto, por isso deprimo, por isso ignoro, por isso culpabilizo, por isso parto. Tá feio esse início de ano. Nem sei mais do quê sinto saudade, às vezes ela pinta, efêmera. Hoje não me mudo de tanto não querer ir a lugar algum. A realidade selon Hic Ille. A realidade, essa gangorra. Teu brinquedo preferido quando pequena, não era isso que dizias Luana? Toma, agora brinca.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

l’heure du vide


Accouche une chanson, on m’a dit

Chanson multi-langue schizo

London- me alone there, no à Toulouse

Para eus.

Chanson non, poésie singée

Abstraitement concrète

Là où tout est tu, agonisant comme mes poumons

S’est fait écrire mon ode au printemps et son heure d’été

L’heure- du- vide commence

Sans permisso

L’envahissante heure- du- vide commence toujours à la même heure

Comment remplissons nous-t-elle si elle est déjà pleine

Mettons de la poésie abstraitement-concrète

Etouffée par les silences cycliques

Poésiemorte-heureduvide-silence

Silence-heureduvide-poésiemorte

Dans moi tout est silence sinistré

Poésie sinistré dans le je du silence

Qui circule et comble

Les heures mortes étouffées

Silence à deux, à un

Silence toujours silence

Dans mon je frénétique

Dans ma syntaxe dyslexique

Dans mes phrases atones

Dans mes mots surds-timides-fatigants

Incrustés de peur

La peur- du- vide arrive et est là

Me regarde et va toujours y être

Peur pleine de poids et de puissance

Peur permanente de ce qui est là

Dans le moi qui n’est pas transformé

Qui ne se contrôle pas

L’heure-du-vide brasse m’embrasse et me tiens compagnie

Elle s’endort l’hiver

Le soleil la réveille

Elle me rend poussière infime

Femme-peur-doute-flammeéteinte

L’heure-du-vide me rend plus seule à chaque vide.

(luana azzolin) avril 2010