Quando perguntou-me se eu tinha levado comigo « aquele filme com Peter Sellers, The party », como se não lembrasse que foi um dos filmes em que mais rimos juntos, pensei mais uma vez que valeu a pena termos ido cada um para um lado. Juntos, o vimos no mínimo duas vezes. Quem sabe a dor da separação tenha sido tão forte que se permitiu esquecer certos detalhes. Outrora também havia esquecido meu aniversário, quando estávamos bem, ainda. Embora quem sabe já nessa época eu assombrava seus dias, suas noites com a minha impaciência e energia, meus empurrões e impulsividade, estas suas palavras e conceitos que me deixam na dúvida entre envaidecer-me ou sentir-me toda erros. França, o « pays de l’amour ». Amar, amar. Até esquecer-me de mim, efervecer e criar forças para parir-me novamente, não sem amar. E de novo um amor após o outro, antes mesmo de acabar o primeiro. E outro, concomitantemente. Ver chegar a dúvida, a hesitação, a cilada. Sentir-me grande-pequena e com a falsa certeza de crer-me capaz de amar-plural, à fond perdu.
...
não posso mais te escrever meias linhas mudas amor
não posso mais te pensar sem lembrar do antes da dor
não consigo mais querer ser somente teu amor
não consigo mais ser somente tua
mas da tua pele sinto o cheiro e a falta
e falta também outras fazem
agora no vazio de meu quarto
Álvaro de Campos musicado
qual amor evoco ?
...
ápice do pânico
o não querer mais cantar o amor
pintar o amor
derramar versos de temática recidiva
versos falsos
léxico gasto
...
quis toda a emoção
toda a aventura
do lado de cá amplificá-las
agudizá-las em meu canto arisco
carente de cheiros e vozes itinerantes
amar para esquivar-me de mim
protelar-me
...
ao amar-te menos
percebi-me
austera
presa
módica
e ainda queres que continue ao teu lado
na sombra do teu medo
na raiva da tua paranóia
queres que eu fique metade, enquanto ainda não um terço
de alma
alma minha perdida
que sonha futuro e liberdade
...
quando ví a lucidez era tarde
no ainda dia
sinapses etílicas
não mais convenientes
overdose de amor agora
entre bares
as always
meteu-se a pesadelos
facada, perseguição, roubo?
nada poderia ser tão permanente assim mon chèr
estável
menino que não soube reter-me pois volátil
de sua própria dúvida
...
preciso ver-te ainda
amor novo
viver-te
inteira
beber tua verdade
e se fôssemos para longe
sermos nós
e se ficássemos permanecendo
permanecendo-nos clareza
permanecendo-nos satisfação
e mais todos aqueles possíveis
que nos sabem
permaneceríamos?
...
joelhos de velha
casa que queima na noite
pensar algébrico
sempre
dor cativa
muda
o amor, a casa
fica o puzzle
infinito
Um comentário:
Gostei muito. de todos. ou todos são um só?
(...)
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