textículos despretensiosos- poesis epilepticus
pífio-devaneio-desabafo de uma subdesenvolvida na europa
sábado, 1 de setembro de 2012
Flor de delicadeza
sábado, 25 de agosto de 2012
terça-feira, 24 de julho de 2012
Descosturado
(publicado na Arte & Letra estórias, letra P, Verão 2012)
terça-feira, 4 de outubro de 2011
ekphrasis
Da janela do trem, o céu se prepara, todo rosa pra receber o sol. Tudo é feio ou chato ou igual na manhã que brota. Agora menos triste e gelado pois diminuiu a mesura da matilha de destituídos que vejo. Sinto um calorzinho ilusório e temporário nessa mudança de hemisfério. Esqueço esse tema, invento outra armadilha:
Circulam carros levando casais de solteiros já divorciados. Acordar cedo faz isso com as pessoas? A distância amortece-se à noite ou inflama-se? Se o amor é mesmo líquido porque os humanos insistem em substituir um por outro igual? Finjo parar de questionar enquanto instigo-me a permanecer numa ilha.
Se a calmaria me dá solidão e mesmo assim não renuncio à ilha, vivo um dilema. Já estive erma acompanhada, embriagada de encanto por um sorriso infantil.
Vivo o dilema da volúpia do abandono.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Escondo-me a cada dia para que não me vejam. Eles. Tantos e múltiplos, por todos os lados. Escondo-me de teus olhos lindos e daqueles olhos que podem me fazer chegar a tí. Escondo-me dos dias, das noites, nos dias e noites de meu refúgio que conheceste e que crês, às vezes, não poder fazer com que me afaste. Escondo-me de mim, calo-me. Amo-te então com doçura e calma, sem comunicar-te. Gota d’água na pele que não confunde, simbiose branda, resignada. Falta-me força ou paz ou tempo ou coisa alguma para bem poder definir meu querer. Talvez te queira mais e melhor quando longe. Em memória devoro-te sem pressa. Querer- te- ia inteira minha e quotidianamente se livre fosse de fantasmas e medos. Permaneceríamos quem sabe. Permaneceríamos logo ? Se teu amor durável, paciente que fora ainda fosse. Dos tantos possíveis hesito em escolhas. Levo a morte em meus olhos, na poesia do amigo morto. Então quando vivo é palavra, que teima em sair agora e que não chegará a tí.
Quelle idée de m’aimer autant !
No dia em que percebí o dragão que mora em meu jardim tínhamos repartido a noite
Não querias
Quebrei tua resistência a beijos
Impregnei-me de tí alí mesmo
Dias mudos
Silêncios por mim sustenidos
Fala áfona em língua emprestada
Não- dizeres
Troquei-a pela leveza de uma meia-verdade
Pelo não mentir
Libertou-me quiçá
Tornei-me silêncios e lágrimas
E permanecí ao teu lado construindo ilusões
Semeando dúvidas
Plantando nadas na magia da tua insistência
Sentindo falta da tua ausência
Querendo meu silêncio e perceber-me toda
Sem confiar-te meu tempo
Sendo minha
Deixa em paz meu poema
Não escreva entrelinhas por tí interpretadas
Pára
Deixe-o ser
Meu
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Ad amorem
Quando perguntou-me se eu tinha levado comigo « aquele filme com Peter Sellers, The party », como se não lembrasse que foi um dos filmes em que mais rimos juntos, pensei mais uma vez que valeu a pena termos ido cada um para um lado. Juntos, o vimos no mínimo duas vezes. Quem sabe a dor da separação tenha sido tão forte que se permitiu esquecer certos detalhes. Outrora também havia esquecido meu aniversário, quando estávamos bem, ainda. Embora quem sabe já nessa época eu assombrava seus dias, suas noites com a minha impaciência e energia, meus empurrões e impulsividade, estas suas palavras e conceitos que me deixam na dúvida entre envaidecer-me ou sentir-me toda erros. França, o « pays de l’amour ». Amar, amar. Até esquecer-me de mim, efervecer e criar forças para parir-me novamente, não sem amar. E de novo um amor após o outro, antes mesmo de acabar o primeiro. E outro, concomitantemente. Ver chegar a dúvida, a hesitação, a cilada. Sentir-me grande-pequena e com a falsa certeza de crer-me capaz de amar-plural, à fond perdu.
...
não posso mais te escrever meias linhas mudas amor
não posso mais te pensar sem lembrar do antes da dor
não consigo mais querer ser somente teu amor
não consigo mais ser somente tua
mas da tua pele sinto o cheiro e a falta
e falta também outras fazem
agora no vazio de meu quarto
Álvaro de Campos musicado
qual amor evoco ?
...
ápice do pânico
o não querer mais cantar o amor
pintar o amor
derramar versos de temática recidiva
versos falsos
léxico gasto
...
quis toda a emoção
toda a aventura
do lado de cá amplificá-las
agudizá-las em meu canto arisco
carente de cheiros e vozes itinerantes
amar para esquivar-me de mim
protelar-me
...
ao amar-te menos
percebi-me
austera
presa
módica
e ainda queres que continue ao teu lado
na sombra do teu medo
na raiva da tua paranóia
queres que eu fique metade, enquanto ainda não um terço
de alma
alma minha perdida
que sonha futuro e liberdade
...
quando ví a lucidez era tarde
no ainda dia
sinapses etílicas
não mais convenientes
overdose de amor agora
entre bares
as always
meteu-se a pesadelos
facada, perseguição, roubo?
nada poderia ser tão permanente assim mon chèr
estável
menino que não soube reter-me pois volátil
de sua própria dúvida
...
preciso ver-te ainda
amor novo
viver-te
inteira
beber tua verdade
e se fôssemos para longe
sermos nós
e se ficássemos permanecendo
permanecendo-nos clareza
permanecendo-nos satisfação
e mais todos aqueles possíveis
que nos sabem
permaneceríamos?
...
joelhos de velha
casa que queima na noite
pensar algébrico
sempre
dor cativa
muda
o amor, a casa
fica o puzzle
infinito
sábado, 26 de março de 2011
Poesis epilepticus
Quando o sorriso não escorre mais da boca e ela não consegue mais dar beijo vazio, isolo-me. Calada observo, submeto-me aos dias, meses e anos ao constante desalento, cativo, cíclico, besta.
Desalento besta escorre viscoso
dia lento
desalento sólido, ermo
invade a tarde
instala-se
estala-se de não-deixar-fazer-nela-febril
sol indardendo
longe
dias contando dias
querendo
desalento todo
findo