Cheguei na cidade que moro há anos não sei precisar o dia da semana, dia em que ela me pareceu particularmente bela. Resolvi caminhar, deixei o carro na garagem, esqueci por algumas horas o que me afligia, e quando me dei por conta, estava numa rua repleta de turistas. Me senti um pouco turista também. Talvez por isso a considerei mais bela do que de costume. Não me lembrava da última vez que passei por aquelas ruas, me surpreendi com a quantidade de gente que passava por ali na mesma hora. Eram pessoas não sei de onde, não prestei atenção que língua falavam. Tiravam muitas fotos, meio sem pensar, com pressa, queriam registrar tudo. Comecei a chorar. Uma mocinha que tirava centenas de fotos, tirou uma de meu rosto. Que diabos ela iria pensar quando, dentre suas fotos tiradas na mais recente viagem, visse um homem chorando. Poderia ter sido o vento, quem sabe um cisco no olho dele. Acho que surpreendente seria se ela descobrisse que esse homem que chorava era um brasileiro, e que não havia cisco nem vento pra provocar choro. Um brasileiro, no Brasil, na cidade que ele melhor conhecia. Chorava por considerar que conhecia aquela cidade tão bem quanto a turista que havia chegado naquele mesmo dia. Ele era um turista ali, talvez mais do que todos que estavam a tirar fotos. Ele não sabia por que estava naquela cidade, por que foi morar naquela cidade e nem por que continuava ali. Me senti típico, ordinário, quantos brasileiros, ou melhor em todo mundo deve haver gente que se sente estrangeiro na cidade que elegeu pra ser a sua. Minhas lágrimas aumentaram. Eu era um turista na minha própria vida.
Luana Azzolin