quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ideal


A fome faz sentir-me vivo. Diferentemente do que me invadia no período em que invejava as vacas.Achava minha rotina semelhante a delas, ia cego em busca do alimento e nada mais. Pero aflito, injuriado, e não sereno e resignado como elas. Quisera eu ser tomado de tamanho conformismo. Perder um amor fez me sentir inteiro como uma, mas sem sino.Hoje tudo mudou um pouco. Os seios sardentos da menina ao lado tinham o cheiro da beleza. Lembraram-me de como é ter alguma vontade de viver.

A garota que se maquia dentro do ônibus com a exímia destreza de um coiffer às seis e trinta da manhã faz eu pensar pra quê? Sempre esperei atento por uma freada, queria ver borrar sua face provando que até as coisas mais simples para alguns podem dar errado em certo momento. A delicadeza de um estranho desmedida e inesperada, ardida como um chicote moral me disse por quê não?Minha falta de simplicidade mostrou-me que não era o caminho. Uma arma na cara provou-me que não era a hora.

Acordar bem cedo e não pensar na dor, trabalhar sem parar pra não lembrar dela.Não levar ninguém pra casa pra não gostar, estar só e se arrepender.Pensar nos seios sardentos da menina e ter medo.Querer ser a menor mancha seja no seio ou na vaca.

Luana Azzolin

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