A inapetência a qualquer convívio já se fizera inerente a mim, pouco por vontade própria e bastante por definitivamente não despertar interesse à ninguém. Passava os dias só comigo, às vezes sem emitir uma sequer palavra. Vez em quando, naqueles dias em que era preciso mesmo sair de casa, era acometido por um sonoro “Ei” ou até mesmo um toque suave em meu braço, confesso que algo sublime em mim era despertado, como numa epifania, mas bastava eu me virar para ver que aquela pessoa queria mesmo era saber onde ficavam os condicionadores, me confundindo com um funcionário, e não a mim. Após terem me tocado, davam-se por conta do engano e desculpavam-se “pensei que fosse o fulano”. Já fazia um bom tempo que as coisas se davam assim. De tanto não haver procura e nem interesse de nenhuma pessoa, fosse um tia velha,chata e gorda, cheguei a pensar que eu não mais existia, que eu era a minha mentira.Não raro ao voltar pro meu esconderijo o único som audível era sempre o de minha respiração, várias vezes bati com força os pés no chão para que eu pudesse ouvir meus passos também, sinal mais verossímil de que havia alguém ali.Sempre soube que somente submerso em enorme tristeza para não ter certeza de minha própria presença.Chorar nessas ocasiões não era sempre inútil, o sal das lágrimas em minha face me provavam que eu ainda era capaz de algo, mesmo que fosse apenas disso.Foi numa dessas em que eu não conseguia acreditar em mim que resolvi tirar a prova.Ví ao final que estava apenas adormecido, mas então já era tarde. Esta conclusão custou-me o reflexo no espelho bem como o embaço nele causado por minha respiração algum dia. Não haveria mais lágrimas que pudessem me mostrar que eu ainda estava vivo, pois já não o era.
Luana Azzolin
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